O tema saúde mental ainda é pouco discutido na grande maioria das organizações. Sendo assim, menos ainda se fala na saúde mental das mulheres no ambiente organizacional. Entretanto, são elas as mais propensas a problemas psicológicos como ansiedade, estresse e depressão.
E a questão não é apenas, fisiológica ou hormonal, existe uma contribuição social significativa para o adoecimento do público feminino ser maior em comparação ao masculino.
Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao ano de 2019, apontava que a força de trabalho era integrada em sua maioria por homens, atingindo um percentual de 73,7%; enquanto as mulheres participavam com 54,4%.
Outros dados da mesma pesquisa apontam que o fator relevante capaz de afastar as mulheres do mercado de trabalho é a presença de uma criança com menos de três anos vivendo no mesmo domicílio. Apenas 54,6% das mulheres continuam trabalhando tendo filhos nessa faixa etária.
O levantamento ainda apurou que as mulheres dedicam quase 21,4 horas semanais a afazeres domésticos ou cuidados com pessoas, enquanto os homens dedicam a metade; apenas 11 horas.
Os afazeres domésticos trazem limitações às mulheres e impacto em seus salários, pois cerca de um terço das mulheres trabalha em tempo parcial de até 30 horas semanais. Isso as redireciona a ocupações menos remuneradas e também à informalidade.
As mulheres possuem maior formação escolar e maior qualificação para o mercado de trabalho em relação aos homens. A taxa de mulheres com ensino superior completo é de 19,4%, enquanto a dos homens é de 15,1%, de acordo com IBGE censo referente a 2019. No entanto, o mesmo não se observa em relação aos salários, elas continuam ganhando em média duas vezes menos que os homens com as mesmas atribuições. Portanto, a educação não influencia diretamente na desigualdade que ainda existe no mercado de trabalho em relação a gênero.
Os problemas da saúde mental das mulheres surgem não só por questões genéticas, mas também pelo papel e experiência de cada uma dessas mulheres na sociedade. Concordamos que gêneros diferentes têm experiências diferentes.
De acordo com McKinsey and Co. em 2021 uma em cada 3 mulheres considerou largar seu trabalho ou reduzir o tempo de trabalho. Os motivos que as levam a considerar essas ações se devem à conciliação do trabalho com as tarefas domésticas ou cuidados com idosos, ou crianças.
Um dos termos mais pesquisados no Google em 2021 foi cansada mentalmente, veja bem, não foi cansado, mas sim cansad(A), apontando para um esgotamento do público feminino.
As mulheres possuem uma carga invisível que não é considerada nos diversos contextos que a mulher frequenta.
As mulheres são, muitas vezes, responsáveis não somente em seus trabalhos com o planejamento das tarefas organizacionais; mas também por todos os planejamentos e organizações que dizem respeito ao lar.
Em um lar onde uma mulher divide o espaço com um companheiro e uma ou mais crianças, é a mulher quem vai pensar:
- O que precisa comprar no supermercado?
- As crianças têm roupas?
- As crianças têm lanche?
- O que fazer no almoço?
Ainda que as tarefas sejam divididas dentro de casa, é a mulher quem estará com sua mente constantemente ocupada, buscando prever ações, abastecer os estoques e manter as coisas em ordem.
Ainda que a mulher peça para alguém fazer algo, muitas vezes ela precisa descrever o que precisa ser feito, deixar anotado, planejar para outro executar e isso ocupa o lugar na cabeça da mulher. Tudo isso a cansa mentalmente.
Observamos em um contexto organizacional que a mulher nem sempre é vista como líder, mas como alguém que cumpre uma tarefa de apoio, como uma secretária.
Em uma divisão de setor da empresa onde existem homens e mulheres, certamente quando as pessoas precisarem deixar recado para alguém ou entregar algo à alguém, as pessoas irão se reportar às mulheres para desempenhar essa tarefa.
Portanto, as pessoas pensam duas vezes antes de pedir algo a um homem, enquanto se sentem muito à vontade em pedir algo às mulheres, perpetuando o ciclo de sobrecarga mental feminina de trabalho.
Como se a mulher fosse uma secretária eletrônica organizacional e pudesse desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo, e guardar tudo em sua memória.
O ciclo de sobrecarga aprendida desde a infância e reforçada por ditados populares como “mulheres fazem duas coisas ao mesmo tempo; homens não”, prejudicam a saúde mental das mulheres em todos os contextos.
As violências declaradas ou não afetam a saúde mental das mulheres. Elas podem sofrer violência psicológica, como assédio moral ou ainda o assédio sexual dentro das organizações. Também podem sofrer ou terem sofrido violências, psicológica, física ou sexual em outros contextos, pois são resultados de práticas sociais e culturais machistas.
As mulheres expostas a violências durante a infância apresentam um risco maior de se revitimizarem na vida adulta.
Tudo isso pode resultar em episódios depressivos, de ansiedade, estresse, relações prejudiciais com a alimentação e uso de álcool e drogas.
A falta de compreensão e acolhimento da mulher nos serviços de saúde ainda é um desafio que se opõem à saúde mental das mulheres.
Em geral, nos atendimentos, profissionais relatam que as mulheres se calam sobre a violência de gênero, ao mesmo tempo, em que a busca por serviços de atendimento de saúde aumenta.
Mulheres recebem mais prescrições médicas com medicações psiquiátricas que atuam sobre o humor em doses excessivas, o que acaba por ocasionar outras queixas de saúde.
É possível tomar algumas iniciativas a fim de contribuir para a saúde mental das mulheres no ambiente organizacional.
Não dá para realizar ações baseadas em estereótipos sobre mulheres que destoam da realidade local. Por isso é necessário ouvir as próprias mulheres da organização, pois elas sabem melhor o que necessitam e o que precisa ser feito.
Perguntas sobre: Como é a rotina dessa mulher? Quais são seus desafios e ambições? Como ela tem se sentido no trabalho? O que ela busca? Como a empresa pode ajudar nessa caminhada?
O que vale é ter empatia, ouvir e se colocar no lugar do outro.
É importante treinar as lideranças para trabalhar com uma comunicação empática, com suporte psicológico para criar um ambiente adequado ao diálogo franco e saudável.
A única maneira de compreender as expectativas e cobranças vividas pelas mulheres é conhecendo as suas experiências por meio de um espaço de fala.
Recentemente uma mãe após nove meses de sua licença maternidade foi desligada do cargo de liderança em vendas que ocupava na empresa. O trabalho do líder de vendas é árduo, possui metas apertadas, é necessário muita dedicação e talvez a empresa acreditou ser justificável dispensar a sua líder de vendas com suposto baixo rendimento.
Por outro lado, essa líder de vendas, mãe, não mediu esforços para adaptar o filho em uma escolinha aos 4 meses, engrenar a nova rotina de mãe de primeira viagem, mais o retorno ao trabalho, passando 8h fora de casa, sem contar as horas dos sábados.
Será que conversaram com ela sobre sua rotina exaustiva, sobre a flexibilização das metas de vendas, sobre uma flexibilização do horário para poder passar um pouco mais de tempo com o filho?
Ela sentiu-se extremamente descartável, talvez incompetente. Por outro lado, sentiu-se aliviada de não precisar lidar com todas aquelas cobranças, exigências e inflexibilidade. Sem flexibilidade, o exercício do trabalho para a mulher vira um verdadeiro martírio, por isso apenas pouco mais da metade das mulheres seguem trabalhando quando têm filhos menores de três anos.
Uma discussão bastante polêmica é a que se refere à carga horária semanal permitida por lei. A CLT desde sua criação estipula a carga horária de 44h semanais de trabalho.
No entanto, para uma mulher, a carga horária de 44h semanais torna-se ainda mais exaustiva devido a fatores já citados anteriormente.
A redução da carga horária com proporcional redução do salário é permitida, algumas empresas podem estipular novas formas de organização de carga horária e outras flexibilizações como home office.
Na Islândia, o país criou uma jornada com apenas quatro dias de trabalho e três de folga. Não foram reduzidos os salários, apenas a carga horária.
A mudança não impactou tanto na produtividade dos trabalhadores, mas visivelmente contribuiu para o bem-estar e qualidade de todos os envolvidos.
O governo da Islândia decidiu incentivar as empresas a reduzirem as jornadas de trabalho de seus colaboradores e, atualmente, 86% da população trabalha em jornadas reduzidas.
Para quebrar o tabu, é necessário trazer para a pauta da empresa as conversas sobre saúde mental das mulheres. Ofertando programas de desenvolvimento e workshops sobre o tema focando nas próprias mulheres e suas especificidades da saúde emocional das mesmas.
Se a empresa oferece benefícios que possam auxiliar no bem-estar de seus colaboradores e colaboradoras, isso deve ser comunicado e incentivado.
Atendimento psicológico, psiquiátrico pelo plano de saúde da empresa, parcerias com academias ou associações que incentivem o exercício físico.
As pessoas se sentem mais motivadas a buscar os recursos quando possuem a referência e o incentivo.
As mulheres estão tão acostumadas a sobrecarga, a todos pedindo tudo a elas, às expectativas e metas irreais que elas realmente acreditam que precisam dar conta de tudo. Por questões culturais, as mulheres acreditam que devem estar disponíveis e atenderem todas as demandas que surgem.
Existe uma grande dificuldade em dizer o não, medo da reação das pessoas, insegurança, crítica. Mas o fato de não saberem dizer não, as leva a maior sobrecarga.
De modo geral, sobra pouco tempo para as mulheres cuidarem de si mesmas ou se colocarem em primeiro lugar.
Uma boa sugestão é treinar as mulheres às lideranças para serem essas mulheres empoderadas, saibam realizar e também delegar as tarefas. É acomodando melhor os compromissos e demandas, que a mulher consegue diminuir o sentimento de estar sempre devendo.
Não é somente a própria mulher que deve cuidar de seus limites, mas os outros devem aprender a respeitá-las, a não julgar que só porque tem uma mulher na sala ela é quem deve recolher todos os copos da mesa. Não seria melhor se cada um se responsabilizasse pelo seu copo?
A saúde mental das mulheres virá com a busca do equilíbrio.
O equilíbrio ele é dinâmico e não contínuo, a vida vai se reorganizando, mas cada uma precisa fazer o seu trabalho interno.
Enquanto empresa, liderança e sociedade, devem realizar o trabalho externo, na busca por implantação de políticas públicas que oportunizem as mulheres a ingressarem e permanecerem no mercado de trabalho.
Incentivos ao empreendedorismo feminino sem jogá-las na informalidade.
Ações e leis reais que possam minimizar a desigualdade de gênero que ainda existe na estrutura social e cultural do país.
Ainda que não existam leis o suficiente para garantir os direitos de igualdade de gênero no trabalho, as organizações podem criar políticas próprias de implantação e incentivo à carreira de mulheres e líderes femininas. Capacitando-as e incentivando o seu desenvolvimento.
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